Dra. Fernanda Santos Belem

Ter a tranquilidade de evitar uma gestação indesejada é um pilar importante para a saúde da mulher. A escolha do método contraceptivo vai muito além de tomar um remédio que sirva para isso. Ela é complexa, envolve várias nuances da individualidade da paciente, além de informação de qualidade. Ter um médico de confiança, e que saiba te aconselhar nesse momento, auxiliando na escolher do método contraceptivo mais adequado para você é essencial.

Eficácia dos métodos contraceptivos

Na consulta sobre métodos contraceptivos, a discussão da eficácia dos métodos deveria ser o ponto central. Porém raramente  esse aspecto é abordado com a profundidade que mereceria. Afinal, nenhum método envolve uma garantia de 100% que não haverá gestação. E quanto menor for o risco disposto a correr, maior deverá ser a eficácia do método. escolhido.

Porém esse não é um número fixo. Isso porque alguns métodos dependem da adesão da paciente. Por exemplo, o uso do contraceptivo oral tem uma eficácia específica quanto é tomado todos os dias de forma correta no mesmo horário. Mas sabemos que muitas vezes há atraso ou esquecimentos, além de problemas gastrointestinais que limitam seu efeito. Assim, métodos que dependem de um comportamento para o uso (como tomar o remédio) devem ter isso quantificado. 

Mulher de cabelo castannho médio e camiseta vermelha com a mão no queixo sorrindo olhando para alguns métodos contraceptivos expostos, sendo segurados por algumas pessoas

E principalmente, analisado dentro da individualidade de cada paciente. Uma paciente que refere ter dificuldade de tomar remédio todos os dias no mesmo horário teria menor eficácil. Assim como outra mulher que tenha sido submetida à uma cirurgia que envolve menor absorção intestinal, por exemplo. 

Assim, avaliar a eficácia envolve discutir tanto qual a taxa de falha que a paciente tolera correr risco, assim como avaliar se, caso haja escolha de um método que dependa da paciente para o uso, ela é capaz de o fazer. Abordando então todos esses aspectos a chance de uma escolha certeira aumenta, o que se reflete na taxa de manutenção dos métodos nos meses e anos seguintes.

Efeitos adicionais além da contracepção

Na consulta para definir qual o método contraceptivo será escolhido é importante conversar com sua médica sobre diversos aspectos da saúde, mesmo que não relacionados com o ciclo menstrual. Caso haja diminuição de libido, é importante informar e escolher métodos que não tenham como efeito a sua piora.

imagem de calendário branco e rosa com coletor menstrual e absorvente, com imagens de folhas e corações rosas ao redos

Além disso, é importante falar sobre o seu fluxo menstrual. Caso ele já seja excessivo, ou com cólicas associadas, é importante comentar para que sejam escolhidos métodos que tem como efeito a melhora dessas questões, como os hormonais. Debater também sobre incômodos relacionados à acne, oleosidade do cabelo e até mesmo queda auxiliam na escolha de métodos que não pioram, e podem até agir como tratamento associado.

Outro ponto que não pode ser esquecido é a TPM. Quem tem TPM se beneficia de métodos que bloqueiam o ciclo menstrual. 

Contraindicações

Alguns métodos não podem ser usados por alguns pacientes em especial. Esse tema é bastante extenso, e pode ser consultado na roda de elegibilidade da OMS.

Algumas contraindicações são mais conhecidas, como:

  1.  Quem já teve alguma forma de tromboembolismo, como trombose venosa profunda ou tromboembolismo pulmonar, não deve usar nenhum método associado a estrogênio;
  2.  Quem fuma e tem mais de 35 anos, também deve ser desaconselhada a usar métodos com estrogênio;
  3. Quem já teve algum câncer relacionado a hormônio não deve usar nenhum método hormonal;

É importante discutir detalhadamente todas as situações clínicas, histórico pessoal e familiar com sua médica para uma escolha segura e assertiva.

Quais os principais métodos contraceptivos

Métodos naturais e comportamentais

Esses métodos contreceptivos envolvem entender bem o ciclo feminino e evitar se expor no período fértil. Para isso, um acompanhamento dos ciclos nos últimos meses, somado a avaliação do muco cervical, e também da temperatura basal ajudam. A taxa de falha é relativamente alta, pois os ciclos podem variar ao longo do período, mas as principais vantagens desses métodos são o baixo custo, além de serem as opções mais aceitas em algumas religiões.

mulher segurando celular com anotação de ciclo menstrual e ao redor anotação de ciclo menstrual de forma circular brando e rosa

Métodos de barreira

O mais conhecido, popularmente chamado de preservativo ou “camisinha”, cujo termo técnico é chamado de condom masculino. Além dele, existe também o condom feminino e o diafragma, que são menos conhecidos. São métodos com eficácia intermediária, pois é comum haver esquecimento ou uso incorreto. Porém o maior benefício adicional é a proteção contra doenças sexualmente transmissíveis que ele traz quando há seu uso correto.

Métodos Hormonais

Os métodos hormonais são basicamente divididos entre os métodos estrogênio e progesterona, chamado de combinados, e os de progesterona isolado.

Métodos combinados

O mais conhecido é o contraceptivo oral, a pílula, que se toma de 21 a 24 dias ao mês, com realização de pausa programada ao final do ciclo (quando normalmente vem sangramento) e depois é retomado o uso. Há vários tipos, com vários tipos de hormônios, doses e tempo de pausa, e então cada um terá características específicas.

Outros métodos que são combinados, mas um pouco menos conhecidos são, anel vaginal, adesivo, e injeção mensal.

Os métodos combinados, por envolver o estrogênio, acabam ocasionando uma queda da libido como efeito colateral principal, além de poder causar alguns efeitos como piora da dor de cabeça. Como vantagens: o controle de acne, oleosidade e queda de cabelo (quando relacionada a hormônio, como na alopécia androgenética), além do controle de cólicas e melhora do padrão menstrual são motivos que fazem sua adesão permanecer elevada ao longo do tempo.

Métodos de progestagênio isolado

Esses não tem o estrogênio, o que no geral diminui alguns riscos associados a esse hormônio, porém apresentam maiores chances de sangramentos não planejados. Os principais métodos orais são os orais contínuos (como a minipílula). Os que não são contínuos são os injetáveis trimestrais, o implante (o único implante hormonal que é liberado pela Anvisa) e os Dispositivos intrauterinos medicado. Os métodos de progesterona são ótima alternativa para quem está amamentando.

Emergência

O contraceptivo de emergência é um método muito importante para quando há risco de engravidar e não há proteção por outro método. Ele é composto por um comprimido de progesterona e deve ser tomado o quanto antes após uma situação de risco. Idealmente nas primeiras 48 horas, mas tem efeito até 5 dias após (apesar de menor). Não deve ser considerado um método contraceptivo de escolha, mas sim para auxiliar pontualmente.

Dispositivos Intrauterinos

Os dispositivos intrauterinos, também conhecidos pela abreviação DIU, são representados por dois tipos, o DIU de cobre, e o DIU medicado (de progesterona). Esse último, recentemente ganhou uma versão menor com menor dosagem. Eles podem ser colocados no consultório mesmo, a dor é na maioria das vezes bem tolerada. Em casos de falaha pode ser feito no hospital com anestesia.

Há muito medo quando aos riscos do DIU, o que no geral é MITO! A maior complicação é o risco de perfuração do DIU, mas se colocado com com técnica adequada o risco é menor de 1%. O risco do DIU sair do lugar é baixo também, sendo maior nos primeiros meses, mas se o ultrassom mostra que esta no lugar a chande de sair é muito baixa.

O diu de cobre não possui hormônio, o que vem sendo uma demanda cada vez maior das pacientes, sendo uma ótima escolha quando há contraindicação do seu uso. Ele tem eficácia elevada, e dura, a depender do modelo, de 3 a 10 anos. Como pontos negativos, além da inserção que pode ser um pouco incômoda, ele pode aumentar o fluxo menstrual e cólicas.

Já o diu com progesterona tem a vantagem de no geral diminuir o fluxo menstrual e as cólicas. Algumas pacientes até param de menstruar completamente, mas é a menoria (cerca de 30% apenas). As demais, apesar de apresentarem volume de sangramento baixo, podem perder a previsibilidade do sangramento, o que nem sempre é bem aceito pelas pacientes, e deve ser bem conversado antes. Além disso, o diu medicado costuma ter um custo mais elevado.

Definitivos

A laqueadura tubária é o método feminino definitivo. Existem várias técnicas, incluindo a salpingectomia (retirada das tubas todas) ou apenas a ligadura de um pedaço. É realizada via cirurgia, ou minimamente invasiva (laparoscopia) onde são realizados cortes pequenos e a recupração é mais rápida, ou tradicional (aberta) com o corte parecido com a cicatriz de cesárea.

Para os homens, o método definitivo também consiste em cirurgia, mais simples que a feminina pois não é dentro da barriga, e se chama vasectomia.

Recentemente tiveram algumas mudanças nas regras para a realização desses métodos, então é importante sempre conferir a regra vigente. Vale lembrar que por ser um método definitivo, há uma taxa de arrependimento significativa. Por isso, um bom médico deve explicar que existem métodos reversíveis de alta eficácia (sendo maior ou igual a da laqueadura), como o DIU.

Orientações

Quanto mais informações melhor será sua escolha. Na consulta, após falar todo seu histórico de saúde, um exame físico completo, é importante debater sobre os métodos. Tirar dúvidas, desmistificando a contracepção, irá trazer, não só uma segurança de não engravidar, mas também uma melhor qualidade de vida com a escolha do método contraceptivo.

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